Histórias da Unisc

       

 

A FAMÍLIA UNISC CRESCEU

Vera Lucia Eisenkraemer

Lembro-me bem do ambiente familiar da antiga FISC e como eram as relações de trabalho naquela época. Tudo era muito simples, todos se conheciam pelo nome, onde moravam, quantos filhos tinham, com quem estavam casados, com quem namoravam, quais eram seus sonhos e tudo mais a respeito dos colegas de trabalho. Também, éramos menos de 300 entre professores e funcionários. No início e no final do expediente, na hora de bater o cartão ponto, era o momento em que todos se cumprimentavam, trocavam informações, contavam as novidades do final de semana e, claro, não podiam faltar aquelas inevitáveis conversas de “atualização” sobre algumas vaciladas ou escorregões de colegas de trabalho. Quando se contratava alguém para trabalhar, logo todos sabiam tudo a respeito do novo colega e as brincadeiras e os famosos pegas corriam frouxos pelos corredores. Lembro-me de que alguns  lavavam carbono, procuravam um tal de alicate de puxar saldo e de um envelope para ofício circular e,  até,  colar uma placa de controle patrimonial num tal de branco. Branco para quem não sabe era o nome de um cachorro que vivia perambulando pelo Campus. Essas brincadeiras eram aplicadas nos novos colegas apenas para que se familiarizassem com seu novo ambiente de trabalho. Num daqueles dias, em que estava tudo muito tranqüilo,  lembro-me que alguém ligou perguntando sobre uma tal de Edit. Pronto, o alvoroço estava feito. Quem seria essa tal de Edit? O que queriam com ela? Como que ninguém a conhecia? Todos estavam estarrecidos, não podia ser, mas a pessoa do outro lado da linha insistia. Fez-se  contatos com vários setores na tentativa de desvendar o mistério. Até que a ligação caiu no Escritório Central e identificou-se que não se tratava de uma pessoa e sim da marca da máquina de registro da contabilidade, que não funcionava há dias e a pessoa queria apenas consertá-la. Por falar em Escritório Central recordo-me que ali funcionavam praticamente todos os setores que hoje estão ligados à Pró-Reitoria de Administração. As atividades, que hoje são exercidas por setores com grandes estruturas,  eram exercidas por uma pessoa apenas. As informações circulavam com facilidade, e numa daquelas manhãs de inverno, o nosso chefe chegou até o setor lendo um bilhete que o vigilante do turno da noite havia deixado sobre a sua mesa de trabalho. Ao ler a mensagem para nós, lembro que não continha o riso, pois a situação pela qual o vigilante passou em sua noite de trabalho foi no mínimo divertida.  Acontece que, quando o vigilante estava fazendo a ronda no segundo piso do prédio localizado na rua Coronel Oscar Jost deparou-se com uma porta que não abria de jeito nenhum. Assustado, o vigilante achou que se tratava de algum elemento estranho na sala  e que segurava  a porta toda vez que o vigilante a tentava abrir. Lá pelas tantas, e já cansado, o vigilante notou que era o carpete que  havia descolado e impedia a sua entrada na sala. Não teve dúvida: sacou seu canivete que  sempre trazia no bolso e cortou o carpete em ângulo, exatamente na entrada da porta para que pudesse entrar e verificar quem estava escondido na sala. Lógico que  não tinha ninguém, era apenas estranheza do vigia.  Já numa sexta-feira, final de mais um período de matrículas, semana de muito trabalho aconteceu outra façanha. Naquela época todos os setores  envolviam-se e auxiliavam na efetivação das matrículas. Parava-se literalmente as atividades da contabilidade, tesouraria, setor de pessoal, almoxarifado, compras, pois a prioridade era atender aos alunos. Só para ter uma noção de como funcionavam as coisas, as notas promissórias eram datilografadas e o serviço de estafeta era realizado de bicicleta.  Naquela sexta-feira recordo-me que uma das nossas colegas estava com um brilho diferente no seu olhar, estava toda sorridente.  Como era de costume íamos para alguma pizzaria ou um bar para comemorar aquela semana tão exaustiva de trabalho. Quando chegamos na pizzaria, vimos que, além dos colegas que haviam trabalhado nas matrículas, havia um colega de trabalho de outro setor. Mas como todos se conheciam, achávamos que era apenas um convidado. Na hora de sentarmos à mesa, vimos que aquele rapaz sentou-se ao lado da moça, mas até ali não podíamos imaginar qualquer diferença. Lá pelas tantas, depois de muita pizza e vinho, lembro que o braço do moço erguia-se por cima do ombro da moça. No outro dia foi aquele ti, ti, ti. Logo todos sabiam. Todos se olhavam, ninguém podia acreditar que estavam  namorando. Depois disso eles com certeza encontraram-se muitas vezes naquela pizzaria, pois hoje estão casados e a felicidade do casal pode ser medida pela quantidade de flores que ela ainda recebe de seu amado. Hoje, as coisas andam bem diferentes na UNISC, as pessoas sempre estão com muita pressa, têm muitos projetos a fazer, não têm mais tempo para conversar,  os colegas já nem se conhecem mais, nome só dos mais próximos. Também hoje já somos mais de 1.000 e fica difícil manter esse ambiente familiar com um crescimento tão acelerado.  Nas comemorações de aniversário que fazemos em nosso setor, lembramos daqueles tempos  e contamos para os que chegaram na UNISC mais tarde. Esses ficam só ouvindo, acham tudo muito legal mas jamais sentirão aquilo que nós, os mais antigos, vimos acontecer nessa nossa querida instituição de ensino, pois crescemos junto com ela e somos filhos da mãe UNISC que tem um coração imenso cheio de amor e carinho para com todos.

 

Associação Pró-Ensino em Santa Cruz do Sul - APESC