Histórias da Unisc

       

 

MINHA VIDA POR AQUI

Felipe Luz

Já faz anos que caminho por aqui. Ainda me recordo daquele fevereiro de 96, quando passo a passo cruzei a entrada do bloco 8. Então na terceira série, descobria o mundo de possibilidades que viriam a fazer parte de mim. Foi assim, caminhando por aqui que cresci.

Já andei a passos curtos, da criança que se percebia. Dei passos maiores, do adolescente que se confrontava com novidades. Cheguei a dar passos incertos, de quem não sabia onde queria ir. Passei também arrastando os pés, trilhando as balizas das esporádicas tristezas. Tristezas tais que preferiria esquecer, e muitas vezes o fiz pulando a vida em felicidade. Às vezes passei calminho, passo a passo, pensando em tudo que via pelos muros que se erguiam. Passei até mesmo na ponta dos pés, escolhendo onde pisar e como passar. E de repente me vi caminhando lado a lado a uma fera que se erguia, e que muitas vezes me fazia tremer no balanço de seu crescer. Quando me via passar ligeiro, ela logo me buscava; quando me via passar devagar, ela me dava um empurrãozinho. Por lugares daqui que ninguém passou, passei. Entre tantos passos acabei assistindo à fera crescer. E vi tanto que nem sei quanto. Vi aqui alguns homens engravatados discutirem o destino de mil outros, em mais um capítulo da Convenção-Quadro sobre a fumicultura. Vi jogos que levaram a seleção brasileira ao pentacampeonato, em um auditório quase lotado. Vi nascerem campeões, como Peçanha. Vi muita gente importante falando, e entendi o quanto importante era perceber os que calavam. Vi a surpresa reação de canadenses, ao verem a fera e seu tamanho, e me surpreendi em me ver falando com orgulho dela. Vi muito crescer, desenvolver e progredir. Vi a época Kniphoff, vivi a era Campis e hoje reconheço tempos em comando de Thomé. Vi meu irmão se formar, na mesma casa que formou meu pai, que apoiou minha mãe e que sempre fez tanto por mim. Vi também o apagão deste ano, vendo uma UNISC que nunca tinha visto, com menos vida do que nunca.

Andei pela brita, pelo barro, e os vi transformando-se em concreto e asfalto. Se tivesse passado olhando para baixo, teria visto, além da terra se transformar em piche, meus tênis se desgastando um a um, enquanto meu pé crescia. Se tivesse passado olhando para cima, teria visto o céu mudar mil vezes, teria visto as estrelas que hoje não vimos mais, teria visto as luzes surgirem uma a uma, lado a lado. Se tivesse somente olhado para os lados, teria visto quanto todos cresciam, corriam, faziam e nem percebiam o quanto tudo se transformava, e o quanto isso significava. Se tivesse só olhado para trás, teria perdido meu tempo pensando nos erros, teria visto minha trilha mudar de rumo, as mudanças de minhas marcas. Se tivesse escolhido só olhar pra frente, teria muitas vezes me cegado ao que me era mais visível: a UNISC. Universidade que vi crescer e tomar corpo. Que sorte que escolhi olhar para todos os lados, filtrar todos os ângulos, trazer um pouco de cada possibilidade, desfrutar um pouco de cada prazer.

Faz mesmo tempo que ando por aqui. Desde quando não havia Centro de Convivência, bloco 35, bloco 53, grandes vidros espelhados e medicina. E um dia minhas andanças me levaram à área mais verde do campus, de onde se enxerga todo ele. E lá sentado num balanço, com olhar fixo e os tênis sujos, me peguei a pensar o quanto ainda trilharia por aqui? Sem resposta, tornei a me balançar.

Já trilhei tanto, que não soube escolher uma história para contar, e decidi contar parte da história da minha vida. E foi pensando nessa, que entendi o quanto de UNISC tenho. Tenho uma vida curta de 19 anos, são 11, quase 12 de universidade. Caminhando por aqui e vendo tudo crescer à minha volta, me lembro de mim mesmo, sei melhor para onde quero ir, mesmo sem saber qual caminho escolherei. Hoje não dou passos grandes e nem pequenos, eu diria que todos no tamanho necessário. Às vezes dá vontade de parar um pouco; e então paro. E depois que reparo, continuo andando, descobrindo, buscando, e entendo diariamente como sorte a minha oportunidade de passar parte de minha vida trilhando pela UNISC. Muitas vezes ouvi em discursos pessoas usando o termo “casa” para falar dessa Universidade; antes eu achava estranho, mas após essa crônica também vou permitir-me usá-lo.

 

Associação Pró-Ensino em Santa Cruz do Sul - APESC