Histórias da Unisc

       

 

O INÍCIO DA FAMÍLIA

Luiz Carlos Düren

Tudo começou – para mim – há 27 anos atrás. Foi quando ingressei como funcionário da APESC, sediada na Rua Ernesto Alves, prédio hoje utilizado pela EMBRATEL.

Era 2 de janeiro de 1971, quando eu estava nos meus 19 anos. Ali trabalhavam, então, somente o professor Ivo Etges, o contador Günther Reitzer, o presidente... e eu. Ali estava o início do que hoje é todo o complexo de controle das finanças e de pessoal da futura UNISC... O “seu” Ivo detinha o cargo de Superintendente Acadêmico (respaldado pelo Conselho Administrativo da  APESC), que atualmente é mais ou menos equivalente ao posto de Reitor. Como hoje, já havia o cargo de presidente da mantenedora, na época, nas mãos do contabilista Leopoldo Morsch. O Günther cuidava de toda a escrituração e eu era auxiliar geral. Ou seja, havia o presidente, três funcionários... e mais nada.

Naquele tempo, cada Faculdade funcionava de uma forma bastante isolada uma da outra. Cada uma tinha a sua secretaria, biblioteca e funcionários próprios, sem ingerência de uma sobre a outra. Assim, era a “dona” Helma Fries, com sua equipe de apoio, de Ciências Contábeis e Administrativas e na de Direito; a senhora Rosa Glesse e sua irmã Martha, na Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras; e a senhorita Valdívia cuidando quase sozinha da Educação Física... Nossos colegas. Evidentemente, cada Faculdade tinha o seu diretor, como o foram, por exemplo, os professores Oscar Winterle na Contábeis; Raul Bartholomay no Direito; Otávio Agra Ohlweiler na Educação Física e o irmão Demétrio na Filosofia, entre outras pessoas ilustres que ocuparam esses cargos. E aí estava todo o ensino superior de Santa Cruz do Sul.

Mais tarde, no primeiro sopro de uma unificação mais concreta, o conjunto delas passou a chamar-se Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul – FISC. Aliás, o sonho de uma futura UNISC, já vinha estampado no logotipo das portas do automóvel de serviço (um Ford Corcel I), onde se lia: Rumo à universidade regional. É interessante lembrar que era então o único veículo que a entidade possuía e o coitado tinha que fazer todas as corridas possíveis e imaginárias.

Estava em conclusão o novo prédio da FISC, localizado na Rua Coronel Oscar Jost, onde – nos meus tempos de guri – funcionava a usina de eletricidade da área urbana de Santa Cruz. Um prédio enorme, que ao ser demolido, foi dando lugar ao novo, utilizando os  fundamentos daquele anterior e que hoje é usado pela Secretaria Municipal de Educação. Acompanhamos cada tijolo daquela “re-construção”. Entre outros detalhes curiosos, pode ser lembrado o da sua estrutura reforçada. Por exemplo, há tanto ferro na escada central, que ondas de rádio não chegam à minha sala, situada atrás, no segundo piso (um fio externo, fixo ao telhado, resolveu este probleminha...). O eletrecista  não conseguiu colocar caixas de luz entre os ferros do concreto daquela escadaria. É por isso que ainda hoje as luminárias daquele vão se acham fixadas nas paredes.

Naquele tempo, nós funcionários, éramos uma grande família. Todos nos conhecíamos, pois a convivência era diária. Sabíamos, o nome, o que fazia e o que competia a cada um dos colegas, nos vários setores da FISC. Nossas festas de fim de ano englobavam todos, junta e indistintamente, desde o presidente da APESC e o superintendente acadêmico até o jardineiro e as faxineiras, num único grupo.

A CRIAÇÃO

O que aqui recorda e escreve viu e acompanhou tudo de perto, viajou inúmeras vezes a Porto Alegre e a outros municípios, para comprar material; levar pessoas da diretoria; mandar imprimir e trazer os primeiros Boletins Informativos – então impressos na UNISINOS -; levar e buscar diplomas junto ao MEC, além de outras corridas de todo tipo.

Mas desde logo o superintendente e eu desejávamos criar o que muito faltava ao melhor apoio no desempenho acadêmico das faculdades: um setor unificado e eficiente de recursos audiovisuais: era o meu  sonho, mesmo antes de ingressar na APESC. O que havia, então, era o que não havia: um Departamento de Audiovisuais, pois cada Faculdade guardava seus próprios projetores e equipamentos, cada uma na sua própria secretaria. E com unhas e dentes: “Este aparelho é desta Faculdade e daqui não deve sair...”.

Parecia que este narrador era um intruso ao querer tirar o equipamento da secretaria tal, para controlar este material todo num departamento específico. Já de início, um advogado, lecionando no curso de Direito, mandou me chamar com alta urgência. Gravemente, salientou que... uma vez que o senhor (eu) tirou o retroprojetor daqui da secretaria, exijo que me traga o aparelho amanhã a tal hora na sala de aula... ! Mais parecia uma intimação judicial. Limitei-me a responder: “Lá estará, professor. É para isso que estou aqui”. O homem ficou um pouco sem graça. E provavelmente em dúvida...

O TRABALHO

Criando o Departamento Audiovisual da FISC, fui reunindo todos os equipamentos modernos da época. Tínhamos uns 12 projetores de slides (não havia vídeo ainda), três retroprojetores, um projetor de cinema 16 milímetros, três gravadores de som (para fitas cassete), um sistema de ampliação de som para formaturas etc. E com um pouco de discussão, conseguiu-se uma sala de projeção específica, situada no 2º piso. Antes dela, projeções somente à noite... Várias turmas, de todos os cursos, assistiram a filmes científicos e a informativas que eu mandava buscar nos consulados estrangeiros de Porto Alegre, após os professores consultarem catálogos de temas preferenciais. Leva retro, traz, reserva, conserta, registra, faz relatório... Deve ser dito que houve aí um “vestir teimosamente a camiseta”. Com persistência, pois algumas consideravam tal setor “não necessariamente de primeira necessidade” ao ensino... Mas também tive o prazer de trabalhar em conjunto com pessoas muito estimada, como os professores Anildo Bettin, Pedro Augusto Mentz Ribeiro, Ervino Hoelz, Maria Hoppe Kipper, Luci Krämer Schwengber e tantos outros.

Pela formação em Estudos Sociais, também foi-me confiada a mapoteca que, reunida na minha sala, somava algumas dezenas de mapas, fichados e separados por assunto. O mesmo curso (EMC/OSPB) ainda levou-me a ser responsável pela colocação das bandeiras em festas e cerimônias oficiais.

Este relator também era frequentemente visto “trepado” em escadas, consertando as várias luminárias do prédio de três pisos (que afinal de contas, era tudo o que havia). Não era a minha função, mas parecia que aquele complexo era um pouco de cada um de nós que ali trabalhávamos, e portanto...

O objetivo de narrar tais detalhes é apenas o de mostrar a simplicidade funcional de então, numa estrutura que hoje se transformou em complexa, em função das dimensões que se ampliam em uma universidade. Olhar o passado, com tal diferenciação do que é hoje a UNISC, exibe uma história de crescimento tão original quanto o grande industrialista, que recorda o galpão onde outrora iniciou sua empresa.

 

Associação Pró-Ensino em Santa Cruz do Sul - APESC